sexta-feira, 25 de junho de 2010

Redes Sociais na Internet como Novas Possibilidades para Uma Comunicação Democrática

Andréia Lúcia V. Nobre *
Antônio S. Silva **

*Acadêmica do 8º período de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica de Goiás.
**Professor de Políticas de Comunicação do curso de Jornalismo da Pontifícia

Resumo

Este artigo tem por finalidade analisar como as inovações tecnológicas advinda principalmente com a Internet podem conduzir às políticas de comunicação no sentido de contribuir para uma informação mais democrática. Democracia que se faz presente no uso das ferramentas de redes sociais a partir de recursos que permitem a participação e a interatividade com os veículos de comunicação na rede. Este estudo tem como base a pesquisa de campo realizada com o editor-chefe do Jornal O Popular e os pressupostos teóricos dos autores estudados em sala.

Palavras-chaves: Internet. democracia. comunicação. Jornal O Popular.

Introdução

A era tecnológica do fim do século XX, considerada por Ciro Marcondes Filho como a fase do Quarto Jornalismo, ampliou a comunicação de forma a utilizar diferentes tecnologias para informar o público. Tecnologias como a televisão, o rádio e a modernização das redações influenciaram na produção e construção da notícia, porém, a mudança ainda maior aconteceu a partir da comunicação sem fio, como o celular e a Internet, que desafiam o poder hegemônico dos meios tradicionais.

Com o advento da Web 2.0, em 1991, a Internet se tornou ainda mais significativa para a comunicação, pois o conteúdo da rede torna-se mais atraente ao leitor por possibilitar a convergência de som, imagem, texto e vídeo. Para Castells (2002, p. 414), a integração potencial de texto, imagens e som no mesmo sistema – interagindo a partir de pontos múltiplos, no tempo escolhido em uma rede global, em condições de acesso aberto e de preço acessível – muda de forma fundamental o caráter de comunicação.

No Brasil, as primeiras iniciativas para disponibilizar a Internet ao público em geral começaram em 1995, com a atuação do governo federal (através do Ministério da Comunicação e do Ministério de Ciência e Tecnologia) no sentido de implantar a infraestrutura necessária e definir parâmetros para a posterior operação de empresas privadas provedoras de acesso aos usuários. Desde então, o Brasil acompanha o crescimento constante do número de pessoas com acesso à Internet, principalmente após a disseminação das redes sociais como facebook, Orkut, myspace, twitter entre outros.
Considerado o quinto país com maior número de conexões, segundo levantamento feito pelo Ibope/Nielsen, o Brasil ao longo de 2009 teve um crescimento de 8,2% de acessos à Internet, ou seja, até dezembro de 2009 eram 67,5 milhões de brasileiros acima de 16 anos incluídos no mundo digital. Se comparado à Europa, que detêm 420 milhões de usuários percebe-se que ainda é um número pequeno de acesso pelos brasileiros. Em busca de soluções, o governo federal lançou no mês de abril de 2010, o Plano Nacional de Banda Larga que visa universalizar a Internet rápida no país, contribuindo assim para diminuir a exclusão digital que permeia 104,7 milhões de brasileiros, segundo o IBGE. Com o projeto PNBL, o governo pretende oferecer até 2014 cerca de 20 milhões de novas conexões, superando os atuais 11,03 milhões.

Com isso, além de atender a um direito essencial da população, que é o direito à comunicação, a banda larga é uma iniciativa que permitirá a democracia da informação na rede, representando o reflexo dos avanços tecnológicos, onde a comunicação passa a fazer parte da vida das pessoas de alguma forma, levantando discussões sobre sua função diante de uma sociedade da informação na era da Internet.

A influência da internet no processo democrático da comunicação
A partir da década de 60, período em que se acentuou a questão do monopólio das empresas de comunicação, o domínio por elas estabelecido vai ameaçar o elemento fundamental da democracia: a liberdade de expressão. Assim, o modelo de esfera pública defendido por Habermas (1984) valoriza a importância da comunicação no mundo contemporâneo, em que implica um conceito de democracia centrado no discurso e baseado na mobilização social e na força comunicativa de seus participantes. Ou seja, a esfera pública denota as condições de comunicação nas quais é possível a formação, por meio do discurso racional, de opinião pública sobre questões relevantes para a sociedade.

Diante disso, a Internet representa a inovação da tecnologia capaz de “romper” com a monopolização das empresas de comunicação, pois o meio permite diversidades de informação sem que haja um domínio hierárquico dos meios de comunicação. Assim, a Internet e toda sua diversidade de ferramentas disponíveis aos usuários, de forma livre e gratuita – em que pode escolher onde navegar -, é uma forma de propiciar o consumo de informação atendendo a pluralidade do público, sem que haja uma imposição do produto, sem que as empresas de comunicação capitalistas exerçam seu domínio no sentido vertical (de cima pra baixo) como é perceptível nos meios tradicionais.

Por isso, é possível perceber que a democracia, no âmbito do conhecimento das pessoas sobre os meios de comunicação disponíveis hoje, obteve um grande avanço desde o advento das novas tecnologias. Mas se analisarmos a democracia sob as perspectivas do sistema político e econômico que permeia as empresas de comunicação, notaremos a falta e o longo caminho que é preciso percorrer para oferecer à sociedade possibilidades de terem sua voz ouvida, sua pluralidade reconhecida nos diferentes meios. Sob esta óptica, a Internet como mídia permite acesso e trocas de informações entre canais e pessoas distantes no tempo e espaço, o que possibilita “construir” uma comunicação democrática. Porém, ainda há limitações devido aos interesses econômicos das mídias tradicionais que resistem em percebê-la como uma porta a mais para atuar e atender aos anseios do novo público que surge, e cresce na rede.

A apropriação da rede na Organização Jaime Câmara

Em Goiás, a Organização Jaime Câmara, grupo que detêm a maior concentração da mídia goiana, traz reflexo da resistência ao uso das possibilidades da Internet como meio de comunicação. Desde que o primeiro site da Organização foi lançado, em 1996, somente este ano a empresa investiu na necessidade de ampliar as funcionalidades da rede. A empresa sentiu-se obrigada a também fazer parte deste “novo” ambiente tecnológico, repensando formas de investir em estrutura digital que propicie à produção de conteúdos para o ciberespaço. Segundo o editor-chefe do Jornal O Popular, João Unes, a busca por um jornalismo mais interativo, com conteúdos que reflitam a participação do público também da rede é hoje uma realidade que não pode ser desprezada.

Visando esta participação e percebendo a deficiência do site do Jornal O Popular, os próprios jornalistas da empresa sentiram necessidade de acompanhar a tendência (nada passageira) de tornar-se parte da rede, utilizando as ferramentas de redes sociais, por exemplo os blogs e microblogs, como espaços que propiciam ampliar fontes de informação e contribui para o fazer jornalístico.

Com isso, foram criadas versões na Internet dos meios tradicionais, utilizando sites comerciais, portais e mesmo perfis em redes sociais para acompanhar as demandas do mercado digital. Com a criação do Facebook do Jornal O Popular, em abril de 2010, houve a necessidade de abrir espaço para ouvir e reproduzir as sugestões, comentários e discussões dos usuários, como reflexo de que essa apropriação mais participativa de fato promova uma comunicação democrática.

Segundo o editor, a ferramenta de rede social Facebook possibilitou que um novo público pudesse participar de discussões sobre questões como trânsito, política, saneamento básico, segurança e outras necessidades estruturais da cidade. A partir desta iniciativa criou-se um espaço no jornal O Popular que expressasse as perguntas mais significativas feita pelos usuários cadastrados no site com as respectivas respostas dos responsáveis. O conteúdo é publicado todos os sábados com temas diferentes, em que o assunto a ser abordado na próxima edição é divulgado nas mídias tradicionais da empresa durante a semana. Para João Unes, a ferramenta hoje proporciona um ambiente favorável ao jornal, pois além das informações, permite o intercâmbio de fotos e uma interatividade mais instantânea entre jornalistas e o público.

Diante disso, é possível perceber como a maior empresa de comunicação do Estado de Goiás está lidando com as novas inovações da tecnologia. Mesmo diante de um retorno financeiro a longo prazo, a OJC implantou uma editoria de online e investiu em instrumentos digitais modernos visando atender melhor o público do jornal presente na rede. O novo site do jornal O Popular é reflexo disso. Lançado no mês de junho de 2010, o site foi todo reformulado, com novo layout e novas ferramentas de interação, que permitem não só a visualização de algumas matérias ainda permitidas para os não assinantes como também abre possibilidades dos participantes da rede se tornarem produtores-colaboradores da produção da notícia, a partir de comentários e envio de fotos e vídeos para o jornal.

Isso mostra que a necessidade de aproximar o público dos jornalistas é uma tendência nada passageira, e sim muito significativa para o processo de elaboração de pautas e desenvolvimento de conteúdos, contribuindo para um jornalismo mais participativo, e consequentemente, para uma comunicação mais democrática, em que além de receptor é possível ser um produtor de conteúdos e poder escolher o que ler e a quem ler, por meio de uma interação dinâmica, horizontal e que promova conhecimento.

Considerações Finais

As tecnologias da comunicação e da informação atingem cada vez mais públicos advindos dos meios tradicionais, que buscam acompanhar as novas tendências digitais. Os celulares e os computadores são exemplos dessa tendência, sendo cada vez mais acessíveis à sociedade, devido ao barateamento do custo destes instrumentos de comunicação como também o valor da conexão, com diferentes planos de velocidade que atendam a classes mais baixas da população.

Nesse sentido, é preciso repensar as políticas de comunicação necessárias para a construção de uma mídia democrática, em que a informação seja um direito humano reconhecido e valorizado. Trata-se de compreender tais políticas a partir da concepção de que a mídia deve contemplar os pontos de vista das diversidades sociais, abordando interesses também distintos presente em uma sociedade plural, a fim de alcançar uma cultura participativa nos meios de comunicação.

Sob as perspectivas das inovações tecnológicas como a Internet, o desafio está em perceber a participação do público no processo informacional como mecanismo capaz de romper os níveis hierárquicos, de concentração de poder dos donos da mídia. Assim, como produtores e não meros receptores passivos, o espaço da rede torna-se o meio mais democrático de promover conhecimento por meio das trocas de informação disponível a todos que têm acesso e que percebam os benefícios do uso adequado da interatividade.

Referencial Bibliográfico

CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. A era da informação: economia, sociedade e cultura. 6ª edição. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
CIRO, Marcondes Filho. Comunicação e Jornalismo. A saga dos cães perdidos. 2ª Ed. São Paulo: Hacker Editores, 2002.
HABERMAS, Jürgen. Mudança estrutural da esfera pública. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1984.
NOBRE, Andréia. A apropriação do Twitter no trabalho jornalístico. Trabalho de conclusão de curso, 2010.

POLÍTICAS DE COMUNICAÇÃO E CIDADANIA

* Adriano Oliveira dos Santos
** Antônio Silva


*Aluno da Graduação PUC-GO
Comunicação social – Jornalismo
** Professor de Políticas de Comunicação

Resumo

O presente artigo é uma análise sobre a conjuntura no Brasil ao que se refere no ato da cidadania dentro do que se teorizam as políticas de comunicação na sociedade e principalmente referente aos meios de comunicação. Todo o processo em que se encontram pessoas, situações, lugares, debates, entre outros aspectos, podem ser considerados como parte desse processo de construção social. Analizar como se estabelecer uma relação de democracia política nos atuais meios de comunicação no país é primordial para que se reflita como o ser termo “cidadania” é essencial para que isso aconteça ou não aconteça.

Introdução

O que compreendemos por cidadania hoje já está distante do conceito estabelecido na Grécia ou na Roma Antiga. Termo muitas vezes utilizado de forma inadequada. A noção de cidadania tornou-se tão ampla que acaba servindo para tudo. Como a cura para todos os males da vida em sociedade. Segundo Oliveira (2005, p. 46) isso provocou uma crise conceitual, aproximando o termo à “panacéia”. A autora levanta a questão ao se referir à vulgarização de seu uso. Independente disso, Oliveira defende a importância que o termo tem e sua capacidade de “abarcar valores sociais essenciais” como confiança, ética, moral, solidariedade e capital social.

Quando analisamos como se deu a história da cidadania no Brasil, temos que considerar também a evolução constitucional. A Constituição Imperial de 1824, assim como a Republicana de 1891, já exaltava o termo cidadania. O mesmo não pode ser dito a partir de 1930, já que teremos uma diferenciação entre os conceitos de cidadania, nacionalidade e naturalidade. Hoje, cidadania é utilizada para definir aquele que exerce direitos políticos, na condição de brasileiro. Já nacionalidade se refere ao membro do Estado brasileiro. Tratando de cidadania propriamente dita, podemos afirmar que ela ainda está em processo de afirmação e construção.

Apesar das conquistas, ainda há muito que ser feito em relação ao assunto. A partir da segunda metade do século XX, o retorno das eleições diretas para presidente da República e a promulgação da Constituição de 1988, que veio com propostas de redemocratizar o país após o período de ditadura, foram fatores importantes nesse processo. Depois desse período os meios de comunicação começam a ter mais força e influência em decisões no país, porém a democracia comunicacional e política se concentram apenas como monopólio do governo e dos próprios meios de comunicação.

Cidadania, democracia e comunicação

A primeira das condições para a sustentação democrática é a liberdade, mas para que isso se solidifique é importante preservar um exercício pleno de cidadania. Para que haja democracia, antes de tudo, é preciso que os governados se sintam cidadãos. Que permitam despertar em si a consciência de pertencimento à vida política do país. Perceber a importância de ser ator nas decisões que decidem o destino de sua Nação. Como? Antes de tudo, através da vontade de votar já que tal direito é um ato de cidadania.

Conforme explica Oliveira (2005, p. 53), para que a democracia funcione adequadamente no sistema capitalista é necessário “cultivar valores sociais, tais como reciprocidade, obrigações morais, deveres em relação à comunidade e confiança”. Até porque, quando falamos de cidadania, não podemos excluir suas bases, encontradas em conceitos como ética, moral, solidariedade etc. O ato de cultivar tais valores nos remete ao importante papel da comunicação nesse processo de democratização. Por isso, é interessante conhecer qual a sua complexidade e abrangência.

Comunicar é um direito fundamental de qualquer ser humano. Algo que está expresso na Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, no artigo 19:

todo indivíduo tem o direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por quais meios de expressão.

A informação que é disponibilizada nem sempre é a que ele necessita (é aquela que o órgão ou empresa está interessado em divulgar). Ainda tem a velha justificativa de que os órgãos fazem a parte deles. “Disponibilizamos os dados na Internet, ora!” Não consideram o fato de muitos cidadãos não terem recursos para acesso a esses dados. Outros meios como 0800, SACs, ouvidorias são serviços que, se e quando disponíveis, ficam inacessíveis a grande parte do tempo, isso em razão da demanda ser maior que a capacidade de atendimento, ou seja, são ineficientes. As Políticas de comunicação acabam se perdendo com o interesse dos lucros das empresas privadas de comunicação, no qual deveriam ter o papel de promover a cidadania, e o governo negligencia a existência de todo esse tipo de acontecimento, já que explicitamente vemos as “festas” das concessões de TVs e rádios, principalmente.

Enquanto o fato de democratizar os meios ainda se encontra em processo de discussão e de construção, é fundamental a garantia de informação de qualidade à sociedade, seja por meio dos canais convencionais de comunicação ou não. Por isso, a importância de se pensar a comunicação dentro do viés da cidadania. Acredito que a sociedade também tenha culpa nesse processo de “ignorar” o que é de seu dever chegar. Ter um papel passivo perante as empresas de comunicação e o próprio governo, é estabelecer o velho chavão político “rouba mas faz”. Ver o quanto grande parte da sociedade se despreocupa ou ao menos sabem para que serve o governo e a comunicação, não é fator de se estranhar. O Consumismo excessivo de uma fajuta comunicação, e de péssima qualidade, não move o descontentamento entre milhares de brasileiros, por isso que acredito que a maior preocupação em todo esse processo é estar “satisfeito”.

Conclusão

As Políticas de Comunicação é um exercício que grande parte da sociedade desconhece e que os meios de comunicação negligenciam o conhecimento. A coletividade proposta pelo conceito se perde com a ganância pretensiosa e o discurso recheado de eufemismo social que os donos e de empresa de comunicação e próprio governo constroem no decorrer do tempo. A os três pedestais para construção de uma ação política comunicacional é fazer com que a cidadania aconteça estabelecendo a democracia entre a sociedade, governo e empresas de comunicação. Políticas de Comunicação está trelada aos conceitos que se dizem coletivos e responsáveis com o contexto social de alguma forma. Porém acredito que o descontentamento da sociedade em diversas situações é crucial para que haja algum tipo de melhoria nesse aspecto democrático.

Bibliografia

OLIVEIRA, Maria J. C.. Panorama Social e Cidadania: uma análise sobre o Brasil na ótica da comunicação. In: Comunicação: Política e Sociedade. BAZZON, Lara Croverlard (org.). Campinas: Alínea, 2007.

RAMOS, Murilo César (Org.) ; SANTOS, Suzy. (Org.) Políticas de Comunicação: buscas teóricas e práticas. 1. Ed, São Paulo: Paulus, 2007.