quinta-feira, 20 de novembro de 2008

INDÚSTRIA CULTURAL COMO INSTRUMENTO DE DOMÍNIO

A atitude da massa, ou do grande público, que favorece o sistema
da indústria cultural, faz parte desse sistema.

Ana Carla Jacob

Quando assistimos ou ouvimos os meios de comunicação temos a ilusão de que estamos absorvendo conhecimento, entretanto a realidade não é essa. Junto à pequena parte de informação assistimos a um verdadeiro espetáculo apresentado por todos os meios. Conforme destaca Adorno e Horkheimer, “o cinema e o rádio não precisam mais se apresentar como arte. A verdade é de que não passam de um negócio, eles a utilizam como uma ideologia destinada a legitimar o lixo que propositalmente produzem”. A passagem do telefone ao rádio separou claramente os papéis. Liberal, o telefone permitia que os participantes ainda desempenhassem o papel do sujeito. Democrático, o rádio transforma-os a todos igualmente em ouvintes, para integrá-los autoritariamente aos programas, iguais uns aos outros, das diferentes estações, acrescentam os frankfurtianos.

A atitude da massa, ou do grande público, que favorece o sistema da indústria cultural, faz parte desse sistema. Como? Dando audiência e aceitando o espetáculo ridículo com mulheres seminuas ou pessoas mergulhadas em um “mar de sangue”, afinal o veículo não vende se não apresentar o show, o espetáculo. O meio de comunicação por sua vez constrói uma história com o reflexo da realidade e o objetivo é obter audiência, para tanto busca a mais-valor, no sentido de despertar o interesse do grande número – o diferente, o inusitado é a pedra de toque. O mundo inteiro é “forçado” a passar pelo filtro da indústria cultural, ninguém conseguindo ficar fora dela.

A violência da sociedade industrial instalou-se nos homens de uma vez por todas. Os produtos da indústria cultural podem ter a certeza de que até mesmo os distraídos vão consumi-los alertamente. “Cada qual é um modelo da gigantesca maquinaria econômica que, desde o início, não dá folga a ninguém, tanto no trabalho quanto no descanso”, que tanto se assemelha ao trabalho. É possível chegar ao conhecimento de qualquer filme sonoro, de qualquer emissão de rádio, o impacto que não se poderia atribuir a nenhum deles isoladamente, mas só a todos em conjunto na sociedade, explica Adorno e Horkheimer no livro Dialética do Esclarecimento.

Todavia, a indústria cultural permanece a indústria da diversão. Seu controle sobre os consumidores é mediado pela diversão, e não é por um mero decreto que esta acaba por se destruir, mas pela hostilidade inerente ao princípio da diversão, por tudo aquilo que seja mais do que ela própria. O espectador vê no filme, o casamento representado no filme, o seu próprio casamento. Agora os felizardos exibidos na tela são exemplares pertencendo ao mesmo gênero a que pertence cada pessoa do público, mas esta igualdade implica a separação insuperável dos elementos humanos.

Ana Carla Jacob aluna do 4º período de Jornalismo da Fasam e membro do grupo de Estudos das Mídias.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

POR QUE ESTUDAR A MÍDIA?

Devemos acompanhar os adventos da mídia, e suas formas de propagação. Enfim; precisamos aprender a dosar até que ponto ela está ao nosso favor, ou contra nós.

Karen Souto

Não conseguimos escapar da mídia, ela se encontra em nosso meio e mesmo quando não achamos estar sendo influenciados, nós estamos. Autores como Roger Silverstone falam da importância de distanciarmos um pouco de nós mesmos e das mensagens que nos cercam, para que possamos pensar sem influencia do meio.

A mídia está ganhando um espaço que uni o globo terrestre, se tornou onipresente. Para que ela não exerça sua força sem medidas sobre a sociedade, deveríamos nos esconder em um quarto escuro, não ouvir, assistir TV ou obter contato com o mundo externo. Porque mesmo quando não notamos de algum modo ela já nos influenciou.

Como forma de entretenimento a mídia dispersa as pessoas de assuntos que deveriam ter maior atenção é assim que ela consegue manipular e calar as pessoas. Mas a mídia também serve para informar, esclarecer, vender e propagar informações que chegam até nós, somente porque ela existe.

É importante estudar a mídia e compreender esse papel que ela exerce sobre a sociedade. Entender quais os critérios utilizados para se tornar tão influente, e para que fins? Devemos acompanhar os adventos da mídia, e suas formas de propagação. Enfim; precisamos aprender a dosar até que ponto ela está ao nosso favor, ou contra nós.

Como seres pensantes que somos, ou deveríamos ser, é necessário sair do senso comum que faz com que a mídia reproduza, distorça ou explore as mensagens que chegam aos seus receptores. Como diz o autor Roger Silverstone, a mídia serve como processo de mediação, ela se faz e nós a fazemos. Por esse motivo, há a necessidade do estudo da mídia, e sua plena compreensão.

KAREN SOUTO
Estudante de Jornalismo das Faculdades Sul Americana – FASAM e integrante do Grupo de Estudos de Mídias.

sábado, 6 de setembro de 2008

TEORIAS, MÍDIA E SOCIEDADE


Antonio S. Silva


Na modernidade se convive com um dilema: a sociedade se desenvolve, daí formam-se os meios de comunicação no sentido de dar vazão ao conhecimento acumulado ou primeiros surgem os meios de comunicação responsáveis pelo desenvolvimento social, político e econômico? Possivelmente uma ação não descarta a outra. O avanço do homem em sociedade, em função da complexidade da vida faz nascer meios indispensáveis para as interações. Logo, com os veículos de comunicação o desenvolvimento social é inevitável, pois o desenvolvimento intelectual certamente vai resultar em uma sociedade mais eficiente. Sem dúvida, são afirmações aceitas e contestadas pelas várias teorias que analisam a sociedade e os meios de comunicação que, de fato, voltam-se para a massa.

O tema, a princípio, opõe dois pensadores importantes: Marques de Melo e Werneck Sodré. Se este percebe, depois de 30 anos de pesquisa no Brasil, que as empresas de comunicação têm propósito capitalistas, sem as quais o atual sistema seria manco ou talvez nem existisse. Melo, por outro lado, avalia que a comunicação midiática no país brasileiro demora cerca de 300 anos para se tornar realidade em decorrência de uma sociedade primitiva, se comparada com a civilização européia. Colonizados por Portugal, atrasado, os brasileiros sofrem os reflexos da exploração e o aculturamento de uma pátria pouco afeita ao conhecimento literário. Cada qual tem suas razões ao propor suas análises, o fato é que vivemos sob o domínio do capitalismo, com difusão de informações formam e dão vida aos ideais do liberalismo econômico.

Para Roger Silverstone os meios de comunicação, embora possuam capacidade para o domínio e tenta impor seus ideais, a sociedade tem seus mecanismos de tradução sobre as mensagens tratadas pelas mídias. O domínio não se efetiva de maneira absoluta, entretanto, a sociedade depende da mídia para formar a sua própria experiência. Para entender o autor, cabe discutir a lógica da significação, afinal, não é possível imaginar que haverá comunicação se entre dois extremos não existam códigos que fazem a ligação entre eles. A comunicação necessita de signos que transmita a mensagem que deve estar na ordem sígnica do destinatário, daí a limitação do domínio dos meios sobre o homem em sociedade, num processo de mediação permanente.

De uma maneira mais radical, os frankfurtianos, Theodor Adorno e Max Horkheimer ressaltam que há um único propósito das empresas de comunicação: servir aos interesses da indústria da qual fazem parte de maneira intrínseca. Na relação entre "indústria do aço" e "indústria da mídia" surge a chamada "indústria Cultural", cujo propósito é impedir que a sociedade revolucione o atual sistema, por excelência dominador e ordenador. Aqui cabe uma pergunta, possivelmente respondida pelos autores alemães: como uma sociedade, como a brasileira, suporta viver numa relação de ampla desigualdade econômica, em que poucos vivem com milhões e participam de uma irmandade global, e milhares vivem na quase miséria, sendo que grande fatia vive na absoluta miséria e defendendo as normas e regras sistemáticas que lhes são desfavoráveis? A resposta seria a difusão de idéias falsas - a chamada ideologia. As empresas de comunicação, se tornam neste sentido, a base para sustentação de um sistema perverso. Aqui se estabelece o apocalipse.

Entretanto, a sociedade não pode viver no mundo moderno sem os meios de comunicação que colocam o homem diante das rápidas mudanças sociais que lhe dizem respeito. Conforme John B. Thompson, é impossível imaginar a existência do ser humano em meio à dinâmica global sem mediadores eficientes, os meios de comunicação, de massa ou não. Alias há uma discussão importante aqui: é possível afirmar que vivemos em uma sociedade de massa? Para o autor, este termo é infeliz, pode-se afirmar que os meios de comunicação se voltam para atender um grande público, afinal sobrevivem das ideologias estruturantes e, por excelencia, de retorno econômico, somente possível se contar com grande número de audiência/consumidores. Contudo, a sociedade não está alienada de sua realidade, pois mantém tênue relações sociais onde ocorrem trocas permanente, inclusive comunicacionais.

Desta forma, numa visão de uma sociedade global, ressalta aos olhos a afirmação de um pensador canadense que, diferentemente dos frankfurtianos, entende ser sumariamente importante os meios de comunicação que se tornaram a extensão do homem. Com as novas tecnologias da informação está ocorrendo uma espécie de retribalização. Ao invés de uma sociedade em que os indivíduos estão separados pela distância e pelo tempo, o mundo metaforicamente encolheu, e tornamos todos participantes de uma "Aldeia Global". Claro, nada disso seria possível sem os meios de comunicação com suas tecnologias inclusivas, a começar pela televisão que reúne a família na sala de estar. Uma teoria do otimismo.

Finalmente, discutir os meios de comunicação de massa não é uma tarefa fácil, entretanto, é preciso muito esforço e coragem para colocar na ordem do dia estas análises. O grupo de Estudos de Mídias, formada por professores e alunos da Faculdade Sul Americana, resolveu fazê-lo. Sacudiram a poeira da alienação em que vivem muitos estudantes e colocaram a mão na massa. O resultado será muitas diferenças e discussões importantes para o desenvolvimento da comunicação, a formação de pessoas e uma efetiva difusão de conhecimento para a comunidade acadêmica e sociedade.

Antonio S. Silva
Coordenador do Grupo de Estudos de Mídias. Mestre em Comunicação pela Universidade Católica de São Paulo e Professor Universitário.