Antonio S. SilvaNa modernidade se convive com um dilema: a sociedade se desenvolve, daí formam-se os meios de comunicação no sentido de dar vazão ao conhecimento acumulado ou primeiros surgem os meios de comunicação responsáveis pelo desenvolvimento social, político e econômico? Possivelmente uma ação não descarta a outra. O avanço do homem em sociedade, em função da complexidade da vida faz nascer meios indispensáveis para as interações. Logo, com os veículos de comunicação o desenvolvimento social é inevitável, pois o desenvolvimento intelectual certamente vai resultar em uma sociedade mais eficiente. Sem dúvida, são afirmações aceitas e contestadas pelas várias teorias que analisam a sociedade e os meios de comunicação que, de fato, voltam-se para a massa.
O tema, a princípio, opõe dois pensadores importantes: Marques de Melo e Werneck Sodré. Se este percebe, depois de 30 anos de pesquisa no Brasil, que as empresas de comunicação têm propósito capitalistas, sem as quais o atual sistema seria manco ou talvez nem existisse. Melo, por outro lado, avalia que a comunicação midiática no país brasileiro demora cerca de 300 anos para se tornar realidade em decorrência de uma sociedade primitiva, se comparada com a civilização européia. Colonizados por Portugal, atrasado, os brasileiros sofrem os reflexos da exploração e o aculturamento de uma pátria pouco afeita ao conhecimento literário. Cada qual tem suas razões ao propor suas análises, o fato é que vivemos sob o domínio do capitalismo, com difusão de informações formam e dão vida aos ideais do liberalismo econômico.
Para Roger Silverstone os meios de comunicação, embora possuam capacidade para o domínio e tenta impor seus ideais, a sociedade tem seus mecanismos de tradução sobre as mensagens tratadas pelas mídias. O domínio não se efetiva de maneira absoluta, entretanto, a sociedade depende da mídia para formar a sua própria experiência. Para entender o autor, cabe discutir a lógica da significação, afinal, não é possível imaginar que haverá comunicação se entre dois extremos não existam códigos que fazem a ligação entre eles. A comunicação necessita de signos que transmita a mensagem que deve estar na ordem sígnica do destinatário, daí a limitação do domínio dos meios sobre o homem em sociedade, num processo de mediação permanente.
De uma maneira mais radical, os frankfurtianos, Theodor Adorno e Max Horkheimer ressaltam que há um único propósito das empresas de comunicação: servir aos interesses da indústria da qual fazem parte de maneira intrínseca. Na relação entre "indústria do aço" e "indústria da mídia" surge a chamada "indústria Cultural", cujo propósito é impedir que a sociedade revolucione o atual sistema, por excelência dominador e ordenador. Aqui cabe uma pergunta, possivelmente respondida pelos autores alemães: como uma sociedade, como a brasileira, suporta viver numa relação de ampla desigualdade econômica, em que poucos vivem com milhões e participam de uma irmandade global, e milhares vivem na quase miséria, sendo que grande fatia vive na absoluta miséria e defendendo as normas e regras sistemáticas que lhes são desfavoráveis? A resposta seria a difusão de idéias falsas - a chamada ideologia. As empresas de comunicação, se tornam neste sentido, a base para sustentação de um sistema perverso. Aqui se estabelece o apocalipse.
Entretanto, a sociedade não pode viver no mundo moderno sem os meios de comunicação que colocam o homem diante das rápidas mudanças sociais que lhe dizem respeito. Conforme John B. Thompson, é impossível imaginar a existência do ser humano em meio à dinâmica global sem mediadores eficientes, os meios de comunicação, de massa ou não. Alias há uma discussão importante aqui: é possível afirmar que vivemos em uma sociedade de massa? Para o autor, este termo é infeliz, pode-se afirmar que os meios de comunicação se voltam para atender um grande público, afinal sobrevivem das ideologias estruturantes e, por excelencia, de retorno econômico, somente possível se contar com grande número de audiência/consumidores. Contudo, a sociedade não está alienada de sua realidade, pois mantém tênue relações sociais onde ocorrem trocas permanente, inclusive comunicacionais.
Desta forma, numa visão de uma sociedade global, ressalta aos olhos a afirmação de um pensador canadense que, diferentemente dos frankfurtianos, entende ser sumariamente importante os meios de comunicação que se tornaram a extensão do homem. Com as novas tecnologias da informação está ocorrendo uma espécie de retribalização. Ao invés de uma sociedade em que os indivíduos estão separados pela distância e pelo tempo, o mundo metaforicamente encolheu, e tornamos todos participantes de uma "Aldeia Global". Claro, nada disso seria possível sem os meios de comunicação com suas tecnologias inclusivas, a começar pela televisão que reúne a família na sala de estar. Uma teoria do otimismo.
Finalmente, discutir os meios de comunicação de massa não é uma tarefa fácil, entretanto, é preciso muito esforço e coragem para colocar na ordem do dia estas análises. O grupo de Estudos de Mídias, formada por professores e alunos da Faculdade Sul Americana, resolveu fazê-lo. Sacudiram a poeira da alienação em que vivem muitos estudantes e colocaram a mão na massa. O resultado será muitas diferenças e discussões importantes para o desenvolvimento da comunicação, a formação de pessoas e uma efetiva difusão de conhecimento para a comunidade acadêmica e sociedade.
Antonio S. SilvaCoordenador do Grupo de Estudos de Mídias. Mestre em Comunicação pela Universidade Católica de São Paulo e Professor Universitário.